Especialista revela os 8 erros mais comuns
Hábitos de higiene estão diretamente ligados à contaminação das lentes de contato e de suas caixinhas. Pesquisadores da Universidade de New South Wales, em Sidney (Austrália), estudaram a rotina de 119 usuários de lentes para correção visual e chegaram à conclusão de que 66% dos recipientes usados para armazenar o produto estavam altamente contaminados por fungos e bactérias. Depois de alguns ajustes, perceberam que o problema estava relacionado basicamente a três hábitos equivocados: não lavar as mãos antes de pegar a lente de contato; não secar bem a caixinha ao lavá-la; e usar soluções de limpeza de outro fabricante. As complicações resultantes vão desde simples irritações até graves infecções oculares.
No Brasil, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas façam uso de lentes de contato. Trata-se de um número que tende a crescer rapidamente, já que pelo menos metade da população a partir dos 18 anos precisa de correção visual. Daí a urgência em aprender a usar lentes de contato da forma mais correta possível. De acordo com Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, as pessoas em geral costumam negligenciar a saúde ocular, como se a visão fosse um bem durável. Sendo assim, não é surpresa saber que muitos usuários de lentes de contato não cultivam hábitos de higiene apropriados para os cuidados diários com os olhos, com as lentes, nem com as caixinhas em que são guardadas. “Os cuidados são simples e seguem regras de bom-senso. Mesmo assim, ainda é muito alto o número de pacientes que recorrem a tratamentos depois de vacilar na higiene diária”.
Neves revela os oito erros mais comuns em relação aos cuidados com as lentes de contato:
1. Enxaguar as lentes com água da torneira. “A água de grandes capitais, como são Paulo, é uma das mais bem tratadas do mundo. Mesmo assim, é um erro quando o paciente lava suas lentes com água de torneira ou do chuveiro, achando que não faz mal. Embora tratada, a água potável não é estéril nem livre de microrganismos que podem atingir a córnea e causar uma infecção.”
2. Umedecer a lente com saliva. “Às vezes, a pessoa sente-se incomodada com as lentes de contato e, na ausência de material de higiene apropriado, toma iniciativa de reposicionar a lente, umedecendo-a com saliva ou água comum. Apesar de considerar uma ‘emergência’, novamente, é uma péssima ideia. Quando o paciente passa saliva na lente é como se a estivesse mergulhando numa banheira de bactérias. Nesses casos, ou a pessoa usa soro fisiológico, ou recorre às lágrimas artificiais para limpar os olhos e as lentes numa emergência. Em último caso, é preferível jogar a lente fora.”
3. Reaproveitar solução de limpeza. “Por mais que haja toda uma tendência à reciclagem e ao reuso de materiais, esse não é o caso. Quando o paciente resolve usar mais de uma vez a solução de limpeza das lentes de contato, está procurando problemas. Outra vez, é como se estivesse mergulhando suas lentes numa banheira de bactérias antes de colocar nos olhos novamente. Basta um arranhão microscópico na córnea para essas bactérias promoverem uma infecção que pode resultar até mesmo na perda da visão.”
4. Usar a mesma caixa de lentes de contato por muito tempo. “Se você não tem paciência para limpar e armazenar lentes de contato e caixinhas do modo mais seguro e higiênico possível, melhor considerar lentes descartáveis, óculos ou cirurgia ocular. As caixas que guardam as lentes de contato devem ser trocadas entre três e quatro vezes ao ano. Isso porque ela não está livre de contaminação ao longo do uso.”
5. Tampar a caixinha das lentes quando ainda está úmida. “É comum encontrar usuários de lentes de contato que lavam as caixinhas com solução apropriada, mas não permitem que elas sequem completamente antes de tampá-las. É preferível comprar uma caixa nova, livre de contaminação, a recorrer a soluções caseiras como colocar na máquina de lavar louça ou ferver dentro de uma panela.”
6. Usar lentes prescritas há muito tempo. “Tem gente que usa as mesmas lentes de contato prescritas há três, quatro, ou cinco anos. E tem sempre aqueles que usam por um tempo, param, e depois resolvem voltar a usar as mesmas lentes. Trata-se de um erro muito perigoso. Primeiramente, por conta da provável contaminação do material. Depois, porque o grau pode ter sofrido variações ao longo dos anos. Por fim, porque deve ter expirado o prazo de validade do conjunto (lentes, solução, caixa) – aumentando o risco de infecção se o paciente insistir em não passar por nova consulta e adquirir lentes novas.”
7. Dormir com as lentes de contato. “Muitas pessoas acreditam que o pior só acontece com os outros. Assim, vão criando suas próprias regras, como usar as lentes de contato por um tempo prolongado ou ainda dormir com elas. Mas o risco existe e é grande. Quando estamos acordados, a córnea recebe oxigênio do ar e das lágrimas que lubrificam os olhos. Quando estamos dormindo, a córnea recebe menos nutrientes, lubrificação e oxigênio. Sendo assim, quando a pessoa não retira as lentes antes de dormir, ela está aumentando exponencialmente o risco de as lentes grudarem ou até mesmo arranharem a córnea. Caso haja microrganismos no local, uma infecção pode se instalar rapidamente.”
8. Colocar as lentes de contato depois da maquiagem. “Um dos erros mais comuns entre as mulheres é fazer toda a maquiagem e, por fim, colocar as lentes de contato. Esse equívoco na ordem certa de fazer as coisas pode causar prejuízos à visão. Para evitar que as lentes sejam contaminadas, é importante que elas sejam colocadas antes da maquiagem e que sejam retiradas antes da remoção dos produtos de beleza. Outro detalhe importante: quem faz uso de lentes não deve usar maquiagem à prova d’água, já que, em caso de contato, a limpeza das lentes será bastante dificultada ou impossibilitada.”
Na dúvida, o especialista recomenda procurar um médico oftalmologista. “Os olhos têm de estar sempre claros e transparentes. Na presença de qualquer tipo de alteração ou desconforto, é importante revisar a rotina de higiene pessoal, lembrando que é preciso sempre lavar muito bem as mãos antes de tocar nas lentes e nos olhos, cuidar diariamente das lentes com solução apropriada, e usar lubrificante prescrito por um oftalmologista. Se ainda assim a irritação se prolongar, o paciente deve ser avaliado por um especialista.”
Fonte: Dr. Renato Augusto Neves, cirurgião-oftalmologista com mais de 60 mil cirurgias realizadas, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos (SP) e autor do livro Seus Olhos. (www.eyecare.com.br)