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09 novembro 2009

Pânico!, por Marli Gonçalves

Hohoho! Hahaha! Hiiiiii! Huhhuhuh! É mais ou menos como rir, chorar, reclamar e vaiar. Tudo ao mesmo tempo agora. Ando vendo o barbudinho e as luzinhas de Natal penduradas em algumas varandas e enfeitando lojas, promoções com lacinhos vermelhos. Já andaram me perguntando sobre a virada do ano, e acabaram foi virando o meu humor. Já parou para pensar, mais do que na velocidade do tempo, o quanto vai demorar em passar 2010? Veja aqui previsões seguras.


Senti certa apreensão na primeira vez, há dias, quando observei a chegada das primeiras luzinhas chinesas brilhando e anunciando o fim de ano. Para mim anunciam junto uma série de outras coisas, que nos dizem bastante respeito, mais do que castanhas, panetones, champagnes e a loucura que começa a se instalar. Anunciam o ano de 2010. O fechamento de uma década maluca que começou com o bug que não houve, mas teve tudo quanto é tipo de bugs, clicks, booms que jamais imaginaríamos.

Ih, significa que teremos de volta os IPTUs, IRs, IPVAs, ISS, ICMs e os intoleráveis falando, dizendo que vão fazer, acontecer. Nem precisa ser adivinho para saber que uma doença nova vai aparecer, e uma antiga, bem cabeluda, vai voltar. Mais um grande empresário vai quebrar e outro surgir nos noticiários como uma belezura salvadora da Pátria, dar entrevistas, namorar alguma estrela, abrir um saquinho de bondades. Até que apareçam falcatruas de um lado, explicadas em operações policiais de nomes mais discretos, menos divertidos e cinematográficos, mas demolidores. Escândalos, em ano eleitoral, talvez apareçam mais!

O Rio de Janeiro vai lançar uma modinha qualquer, uma ondinha, para abalar, na praia, o terreiro fértil das balas perdidas nos morros. E tentar levantar a moral da tropa que, afinal, lá vem Carnaval! Que beleza! O governador e o prefeito, Batman e Robin, só pensam agora nos arcos olímpicos. E mais nada vem de lá.

Na Bahia, virou mexeu, que preguiça, vamos fazer mais festas, parar um pouquinho, emendar o lé com crê. Tem Iemanjá, tem dendê, tem acarajé. Só perderam o sossego. Viram que o comando petista arrasou o que a baiana tem.

Pernambuco chupará cana e contará tubarões e pernas de surfistas. E crimes contra mulheres que lá andam batendo recorde, no meio de uma violência sem eira nem beira. Como tentam nos impingir, deve ser o Nordeste se desenvolvendo. Deve ser.

Na conferência verde, agora, todo mundo verde, ouviremos que o aquecimento global é solar, vemos o derretimento das calotas, e que o efeito estufa, os cânceres, as perebas, fomos nós que criamos e que alguma coisa precisa ser feita enquanto é tempo. El Niño, La Niña, furacões, tufões, ciclones, tsunamis, acomodações da crosta. Se segura, malandro!

Rigorosas medidas serão anunciadas novamente para combater as enchentes em Santa Catarina, os buracos das ruas de São Paulo, a corrupção em Brasília. Aliás, Brasília será um capítulo à parte na história de seu aniversário de 50 anos. Quem vai cantar?

Quer apostar que as operadoras de telefonia e tevê a cabo vão liderar o topo do ranking de reclamações? Palavras lindas como portabilidade, interatividade, liberdade, respeito, entoarão dos anúncios modernos e musicais.

Quer apostar que haverá rebeliões em presídios, invasões do MST, mortes em filas de hospitais? Que os seguros de saúde vão tentar nos esfaquear com reajustes e blá,blá, blá, blás? Ah, e que os remédios ficarão mais caros, enquanto apertamos os cintos, inclusive os de segurança, e rezamos muito, antes de enfrentar as estradas esburacadas, cheias de placas de obras emPACadas?

Não é pessimismo, não, senhores! Eu sou para cima. Fico imaginando se não fosse e só aí entendo a alta incidência de depressão aguda e crises de ansiedade na população. Ou vocês gostam daqueles roteiros cheios de alegria, histórias lindas que acabam na cena final com alguém acordando do sonho? Você, lá, viajando, enlevado. De repente, o cara que te contava a história acorda! Tombo. (Que ódio, que trauma que eu tenho disso!)

Em compensação, essa época de fim de ano não traz só a tenebrosa e real visão do futuro de 2010, que não requer cartas, não requer adivinhação. Certo. Vamos viver o óbvio, aguentar ouvir falar da óbvia. Ver o de sempre, ampliado à exaustão para parecer melhor e promissor. No mar, cada um cuidando de sua canoa. O chorinho e o sambinha, tocados miúdos, pela oposição desarticulada. Nem boca no trombone, mas tudo na tuba. E quem leva a vida na flauta...

Veja pelo outro lado, que época boa. Todo mundo começa a ficar bom de coração, adere a listas solidárias, adota causas. Revê o que fez, não fez ou fará, pelo menos em desejos; planeja-se e almeja-se. Nas ruas, sai fumaça, e o calor desnuda e mostra. Os corpinhos quase nus, perninhas e coisinhas de fora circulam, pegando um ar fresco. Mesmo com suas chinelinhas as pessoas carregam uma graça maior, ficam mais naturais do que quando travestidas de europeus.Cuidado, menos para os lados dos campus da Uniban, Talibã.

A partir de agora, as luzinhas chinesas se espalharão e a cada dia serão mais e mais em nossos rotineiros caminhos diários. Fora os veadinhos-renas, os flocos de neve artificiais, os anjos, tudo o que de mais meigo houver. As revistas, ao lado das manchetes horrorosas, mostrarão tudo o que fazer para chegar em forma no verão, virar tanquinho, aprender a combinar biquíni com chapéu e óculos, ou como preparar saladas fantásticas. Roteiros turísticos em 10 vezes? Será que os cruzeiros vão continuar na moda?

Ei, qual será o quente do verão?

São Paulo, a quase 45 do final, para frente, Brasil! 2010, O Ano que ainda não começou.


Marli Gonçalves é jornalista. Anda tiririca da vida como ainda pode acontecer uma história como essa da Geisy, a moça simples da Uniban, que desmascarou a hipocrisia com seu vestidinho cor-de-rosa. Ela vai virar uma estrela, se souber brilhar. Às vezes, ser expulso, exposto, mostra como o destino é louco. Como tudo muda, pode mudar. Mas precisa de uma ajuda.

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