Já considerada como doença pela comunidade médica, a obesidade pode exigir tratamento multidisciplinar
Atingindo pelo menos 15% da população brasileira, a obesidade é definida pelo cálculo do índice de massa corporal (IMC), resultado da divisão do peso em quilogramas pela altura em metros ao quadrado (IMC= Peso Kg/Altura m2 ). É considerado obeso aquele que tiver IMC igual ou maior que 30 Kg/m², com risco de comorbidades que varia de moderado a muito grave, conforme o caso. Mas pacientes com IMC acima de 25 Kg/m² já devem ficar atentos à balança e procurar ajuda médica, pois os riscos já começam a aumentar nesta faixa.
Entre as principais comorbidades estão doenças cardiovasculares, diabete melito, câncer, problemas nas articulações pela sobrecarga de peso e ainda estresse psicológico de grau variável, que têm a ocorrência aumentada devido à obesidade.
Segundo dr. João Roberto de Sá, presidente do Departamento de Endocrinologia e Metabologia da Associação Paulista de Medicina (APM), “a etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, sendo resultado da interação entre fatores genéticos, ambientais, hábitos de vida e ainda de fatores emocionais”.
Para o especialista, o excesso de peso deve ser diagnosticado e tratado em qualquer faixa etária. Quanto mais cedo forem instituídas medidas para tratamento, maiores serão as chances de sucesso.
“As medidas mais eficazes que temos até o momento estão relacionadas a mudanças de hábito de vida, como dieta saudável e prática regular de atividade física”.
Tratamento
As alterações na dieta, atividade física e modificações no comportamento são peças-chave em qualquer tratamento para pacientes com sobrepeso ou obesidade. O uso de medicamentos e a cirurgia bariátrica são opções de tratamento adicionais, úteis em pacientes selecionados adequadamente.
“Vivemos um momento de intensa discussão sobre a retirada de medicamentos para tratamento da obesidade do mercado. Se isso ocorrer, certamente dificultará ainda mais a vida de muitos pacientes”, comenta dr. João.
Há três tipos de medicamentos, cada um com uma função. Os anorexígenos levam à diminuição do apetite. “Pelo potencial de causar dependência, devem ser utilizados por períodos curtos, que não ultrapassem 12 semanas”.
Os conhecidos como sacietógenos reduzem a recaptação de serotonina e induzem a sensação de saciedade. “Devido a efeitos colaterais cardiovasculares, estes medicamentos não devem ser prescritos para pacientes hipertensos, com antecedentes de acidente vascular cerebral, angina ou infarto do miocárdio”.
Também não devem ser prescritos na infância, gravidez e lactação e nem para idosos, bem como associados a qualquer outro agente de ação no sistema nervoso central para redução do peso, como os anorexígenos.
Outro grupo interessante é o que promove inibição da absorção intestinal de gordura, reduzindo-a em cerca de 30%. “Seus efeitos colaterais principais são relacionados ao aumento no número de evacuações, às vezes com urgência”, alerta.
A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com o IMC maior que 40 Kg/m², ou ainda naqueles com IMC maior que 35 Kg/m² que apresentem complicações relacionadas à obesidade, como hipertensão, diabetes e apneia do sono. “É a abordagem mais eficaz para perda de peso a longo prazo”.
Causas
O ganho de peso pode estar associado a inúmeros fatores, como dieta inadequada, vida sedentária e até ao uso de medicamentos. Os fatores secundários estão associados a causas psicológicas, como baixa autoestima, por exemplo.
Há também relação direta entre obesidade e genética. “Existem genes que carregam maior suscetibilidade ao ganho de peso - alterações comprovadas em roedores e em humanos. O exemplo mais conhecido talvez seja o que provoca defeito na ação da leptina – controle de apetite e de massa corporal”, explica dr. João.
A obesidade neuroendócrina é causada pela produção excessiva de cortisol - em geral por tumor benigno -, pela a síndrome dos ovários policísticos, pelo hipotireoidismo - lesão de uma área do cérebro chamada de região hipotalâmica - e ainda por deficiência comprovada do hormônio de crescimento.
Para o especialista, a obesidade é uma doença complexa e multifatorial, da qual os recursos terapêuticos para tratamento não são muito eficazes em longo prazo. “O ideal é que exista uma abordagem multiprofissional, com médico, nutricionista, professor de educação física e avaliação comportamental por especialista”.
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