Por Marcos Morita
Acredito que nem os mais desatentos à paixão nacional desconheçam a existência de Neymar, assim como o clube que o revelou. Presença constante nos noticiários esportivos, o jogador tem sua imagem associada à dezena de produtos e serviços, sempre ocupando as primeiras páginas de jornais e revistas, além de horários nobres dos programas televisivos.
Apesar do peculiar corte de cabelo, foi sua permanência no futebol brasileiro, o que mais chamou a atenção das manchetes nas últimas semanas. Contrariando a lógica vigente nas últimas décadas de emigração para o futebol europeu, o craque decidiu permanecer em terras brasileiras.
Algo inimaginável há pouco tempo para fenômenos, imperadores e gaúchos, cujo sonho era brilhar no velho continente. Fazendo uma analogia ao mundo corporativo, o clube praiano soube atrair, manter e reter seu principal talento, algo que muitas empresas têm sofrido em épocas de mercado aquecido. Tentarei fazer um paralelo entre as situações, levando-se em consideração o fato que não sou um fanático pelo mundo da bola.
Atração: sem títulos ou conquistas relevantes, o clube passou por um longo período de ostracismo, quebrado na última década pelos meninos da vila. Com um futebol alegre e envolvente, chamaram a atenção até das torcidas adversárias. Você já perguntou aos candidatos ou recém contratados, quais os principais fatores que o atraíram? Salários acima da média, clima organizacional, carreira internacional, estabilidade profissional, benefícios.
Apesar de eventuais discrepâncias entre os níveis hierárquicos, acredito que as respostas poderão ajudar a mapear os pontos a serem enfatizados e melhorados. Vale salientar algumas iniciativas interessantes, tais como participações em feiras estudantis e parcerias com instituições de ensino, patrocinando, divulgando e promovendo a companhia, melhorando sua imagem junto ao seu público-alvo.
Manutenção: trabalho em grupo e objetivos claros e bem definidos, foram algumas das características que pude notar no elenco que conquistou a Copa Libertadores da América. Com foco e determinação, conseguiram trazer o tão sonhado caneco. Como era de se esperar, a participação no Campeonato Brasileiro está mais para jogo treino, preparatório para a grande final com o Barcelona.
Talentos e profissionais de ponta, em geral não gostam de jogar só para cumprir tabela. Ter estratégias claras e bem definidas, alinhadas com a visão e a missão e traduzidas em objetivos e metas realistas, factíveis e motivadoras, certamente ajudará na manutenção das melhores cabeças. Pesquisas de clima organizacional, assim como avaliações de desempenho periódicas, podem sugerir eventuais casos que devam ser trabalhados.
Retenção: creio que uma empresa não necessite ter um departamento exclusivo para cuidar dos interesses de um único funcionário, porém em muitos casos, exceções devem ser feitas a regra. Comece por classificar seus talentos utilizando funis ainda mais estreitos. Certamente chegará a alguns poucos cuja perda seria irreparável, outra leva que custará a recontratar e treinar e outros ainda cuja manutenção no time seria importante.
Faça o possível e o impossível para manter os classificados no primeiro grupo. Opções de ações realizáveis em longo prazo, cursos de alto nível no exterior atrelados com cláusulas de fidelidade podem ser interessantes. Oportunidades de períodos sabáticos, assim como possibilidade de trabalharem em home office devem também ser consideradas. Vale salientar que na maioria das vezes os motivos da troca não são financeiros, pelo menos no mundo corporativo.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
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