José Ricardo Roriz
Coelho*
Não é só juro alto
que mantém os preços de nossos produtos e serviços e a inflação sob controle.
Para isso, a concorrência é fundamental! Juros altos por tanto tempo ajudaram a
provocar um longo período de valorização da nossa moeda, que, aliado à baixa produtividade,
pesada carga tributaria, falta de infraestrutura adequada, burocracia, aumento
dos gastos do governo com pouca eficácia na sua utilização, afastou o
investimento e destruiu a capacidade competitiva do Brasil. O País pagou desnecessariamente muito tempo cerca de R$ 19
bilhões em juros para cada 1% de aumento de Selic, sendo que uma boa parte
desse valor poderia ter sido aplicada na infraestrutura e/ou desoneração dos
investimentos.
Enquanto isto,
felizmente, a disponibilidade maior de crédito, aumento do poder de compra dos
salários e inclusão social resultante dos corretos investimentos do governo em
erradicação da miséria aumentaram a renda dos brasileiros, que foram às
compras! Com renda per capita até US$ 5.000/ano, as pessoas
procuram atender as suas necessidades básicas. Quando ultrapassam esse patamar,
situação na qual nos encontramos hoje, elas passam a ter acesso a mais
serviços, bens duráveis e produtos manufaturados. E são justamente estes
últimos, que tanto encantam os consumidores, que perdemos a capacidade de
produzir aqui a preços competitivos. Depois que a nossa renda per
capita ultrapassar US$ 20 mil, com melhora da qualidade da educação e
com os salários mais altos, cairá a participação dos manufaturados no PIB,
aumentando a de serviços e de produtos de maior conteúdo tecnológico. Porém,
isso esta longe de acontecer!
A falta de
concorrência, e o baixo investimento jogaram os preços de serviços
administrados pelo governo e os de produtos de grandes oligo/monopólios nas
alturas. O custo do capital, carga tributária, salários crescentes com queda da
produtividade e o baixo interesse de investir para competir com produtos
importados, que a cada dia ficavam mais fortalecidos com a valorização do Real,
afastaram a possibilidade de aumento de oferta da produção brasileira. A
consequência disso é que a parcela de ampliação do nosso mercado advinda do
crescimento da renda do brasileiro acabou sendo capturado pelos produtos
importados.
Se não tivermos
capacidade de produzir aqui os manufaturados que nossa população comprará
devido ao aumento de sua renda, as importações desses bens, de alto valor
agregado, serão crescentes. E de que adianta esse processo de ascensão
socioeconômica, inclusão social e maior massa salarial, se os produtos nacionais
são os mais caros do mundo? Por que o brasileiro tem de pagar mais caro por
tudo? Imaginem os nossos consumidores com a renda de hoje se os produtos e
serviços aqui oferecidos tivessem os preços das lojas de Miami ou das
principais capitais asiáticas!
A questão prioritária
é: como permitir que o Brasil volte a ter condições de concorrer e continue
aumentando a renda de seu povo como tem acontecido nos últimos nove anos? Só
temos um caminho: investimento. Apesar de alguns avanços importantes e corajosos
definidos pelo governo no último ano, o investimento só virá a partir do
momento em que se consolidem alguns preceitos no País: ambição de ser melhor do
que os nossos concorrentes; condições adequadas para crescermos muito mais do
que se tem verificado; previsibilidade com planos e metas de curto,
médio e longo prazos bem definidas; melhora da capacidade de gestão e execução;
regras claras associadas à desoneração do investimento; simplificação dos
processos, com menos burocracia; melhora da qualidade do ensino; acordos
comerciais inteligentes com outros países; melhor distribuição da carga
tributaria, com simplificação, não se onerando tanto o custo de se produzir.
Ademais, precisamos
melhorar a nossa infraestrutura e, principalmente, convencer os investidores de
que voltem a acreditar no Brasil. Sem investimentos, ficaremos com a inovação a
reboque dos nossos concorrentes! E hoje a inovação, fundamental para atender às
exigências cada vez maiores dos consumidores, ocorre onde as coisas acontecem e
onde os produtos são fabricados. O importante é recuperar a capacidade de
concorrer com vantagem, que perdemos, já faz um bom tempo.
*Ricardo
Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico
(Abiplast) e do Sindiplast.