Abertura de estudo pode levar à identificação de outros bens que poderão vir a ser objeto de tombamento
Na reunião do Conselho da segunda-feira, 19 de maio, foi aprovada, por unanimidade, a abertura de estudo de tombamento de três clubes negros do Estado de São Paulo. A decisão amplia o reconhecimento de lugares de memória no estado de São Paulo e contribui para a reflexão sobre os sentidos e valores do patrimônio cultural. Assim como reconheceu e tombou, em janeiro deste ano, as antigas instalações do DOI-Codi, em função de sua simbologia política e valor como patrimônio da memória paulista, é a vez do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) reconhecer, ainda que tardiamente, a importância da cultura negra na formação de São Paulo.
O conselho entendeu que os clubes Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio (São Carlos), Sociedade Beneficente 13 de Maio (Piracicaba) e Clube Beneficente Cultural e Recreativo 28 de setembro (Jundiaí) apresentam indicativos de que são elementos importantes para a história social e cultural da formação da sociedade paulista, com ênfase para a cultura negra. Como assinalou o parecer técnico da UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico), o aprofundamento das pesquisas e análises poderá levar à identificação de outros bens que poderão vir a ser objeto de tombamentos. O pedido foi apresentado pela Assessoria Cultura Gêneros e Etnias.
Segundo o parecer do conselheiro relator, Heitor Frúgoli Júnior, as investigações da UPPH apontaram uma forma de conhecimento sobre dimensões históricas relevantes da população e cultura negras; além disso, ao sinalizar para a possibilidade de futuros tombamentos, certamente auxilia potencialmente tais clubes no presente, quanto à possibilidade de os mesmo aglutinarem mais participantes, incluindo gerações mais jovens, nas lutas coletivas afrodescendentes pela expansão de seus direitos na realidade contemporânea.
Os clubes negros têm origem em uma época ainda anterior à abolição da escravatura, em 1888. Um deles, o Clube Beneficente Cultural e Recreativo 28 de setembro, de Jundiaí, foi fundado em 1887. Em todos eles, para além das atividades recreativas e culturais, podemos reconhecer a existência de lutas e resistências contra a discriminação tais como esforços para angariar recursos que viabilizassem o pagamento da alforria de escravos.