A indústria fabricante de peças e componentes para atender os setores de bicicletas e motociclos vive momentos muito difíceis. Estamos assistindo a segunda fase da desindustrialização brasileira no segmento. Algumas empresas estão reduzindo seus quadros de funcionários para continuarem em pé e assim fazerem frente à concorrência dos importados, que cresceram 100% no exercício.
Muitas indústrias estão deixando de fabricar e importando porque: os produtos importados são subsidiados no pais de origem; a moeda é artificialmente manipulada para facilitar a exportação e alguns estados brasileiros dão incentivos a quem importa, o que é totalmente contrário ao interesse do País”, desabafa Auro Levorin, vice-presidente do SIMEFRE – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários.
O mercado continua registrando índices negativos, principalmente para os fabricantes que fornecem para a indústria de bicicletas, que sofreram uma perda da ordem de 10% no faturamento”, diz Renan Chiabai Feghali, diretor do SIMEFRE.
No seu entender, os instrumentos de defesa comercial não alcançam o setor fabricante de peças e partes para bicicletas e motos, que observa as importações crescerem a níveis assustadores de um ano para outro sem muito o que fazer para conter essa competição desleal.
Bicicletas: Levorin acredita que a indústria que fornece para os fabricantes de bicicletas tenha sofrido uma perda da ordem de 20%, enquanto o mercado caiu cerca de 7%. “O consumidor colocou o pé no freio porque não tem certeza sobre a influência que sofreremos da crise econômica dos EUA e Europa”, conta.
Para agravar mais ainda a situação, os fabricantes convivem com a concorrência dos produtos importados, principalmente aqueles fabricados na China. “Até o momento estamos bancando o prejuízo, mas muitas empresas deixaram de produzir inúmeras peças e reduziram o quadro funcional para fazerem frente à queda de demanda”, assegura.
Entre as peças que deixaram de ser fabricadas no Brasil estão as de aço, alumínio e as de plástico, como corrente, roda livre, câmbio, coroa, cubos, raios, freios, etc.
Segundo Levorin, faz parte da estratégia dos fabricantes de peças e partes para veículos de duas rodas para fazer frente à concorrência externa é adensando a cadeia produtiva de Manaus. “Assim podemos competir melhor neste mercado”, confessa.
Motociclos: Segundo os dois representantes do SIMEFRE, o setor de motopeças está em melhor situação. O mercado de peças para motos deve crescer cerca de 10% e a indústria 5%. “Mesmo em expansão, o segmento também enfrenta problemas semelhantes de substituição de componentes nacionais pelos importados”, completa Feghali.
O aumento de participação de produtos importados ocorre com as vantagens contratuais de marcas que, praticamente vedam a substituição dos componentes nos veículos que chegam em CKD. “Principalmente as marcas entrantes (novas) que se valem das facilidades da atual regulamentação da PPB (Processos Produtivos Básicos)”.
Perspectivas para 2012: Feghali diz que uma grande preocupação dos fabricantes da área é que a China transfira para o Brasil tudo que exportava para os Estados Unidos, Europa, etc. (países que vivem com maior intensidade a crise econômica).
Ele reclama da falta de uma política industrial no Brasil que beneficie o setor de componentes, que agrega tecnologia e mão-de-obra, diferentemente de outros países como a Argentina e a Comunidade Européia. Os fabricantes brasileiros estão com dificuldades nas exportações e estão perdendo mercado para os produtos importados. “É mais fácil financiar a importação do que a exportação. A indústria da Zona Franca de Manaus está crescendo, mas isto não quer dizer que os fornecedores brasileiros também estejam”, diz.
Ele explica que as empresas que compõem o setor, na sua grande maioria, são de pequeno e médio porte e têm problemas para se organizarem em termos de defesa comercial. Segundo ele, esse trabalho deve ser feito pelas entidades que representam as indústrias.
Levorin não acredita que 2012 traga grandes mudanças para os fabricantes de peças e partes de bicicletas e motociclo. No caso do segmento de moto, ele arrisca um pequeno crescimento, que pode girar em torno de 2%. Já, o mercado de produtos para bicicletas deverá permanecer igual ou pior que 2011. “Esperamos que haja mais empenho por parte do governo, no sentido de agilizar os mecanismos de defesa comercial necessários para equilibrar a concorrência desigual que existe entre a fabricação no País e a importação”, finaliza.
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