Por Alcides Leite*
A primeira vitória de
Obama, em 2008, por uma margem mais dilatada do que a obtida na atual eleição,
foi conseqüência, sobretudo, da rejeição da população americana ao governo
Bush. A pior crise econômica desde a década de 1930 e o envolvimento em duas guerras
inúteis foram motivos suficientes para esta rejeição. O aparecimento de um
senador jovem, brilhante orador, portador de um discurso otimista, sem
radicalismo, preencheu o desejo de mudança dos eleitores.
A lua de mel dos
eleitores com Obama durou pouco. A dificuldade de superação da crise e a forte
reação dos setores conservadores da sociedade colocaram o presidente na
defensiva. Erros políticos também foram cometidos pelo governo. O maior deles
foi ter utilizado os primeiros dois anos, quando tinha maioria no Congresso, na
desgastante aprovação da reforma do sistema público de saúde. Embora fosse
necessária, esta reforma poderia esperar um pouco mais. A urgência do momento
era a redução do desemprego e o equacionamento do déficit público. Se Obama tivesse
aproveitado seu capital político para aprovar uma reforma tributária,
aumentando os impostos para os mais ricos, ele teria conseguido aumentar a
arrecadação do setor público e acelerar o processo de recuperação da economia.
Na segunda metade do
mandato, os ânimos acirraram. O partido republicano, com maioria na Câmara dos
Deputados, declarou guerra ao Presidente da República. Seus líderes declararam
que a prioridade número um do partido seria fazer de Barack Obama presidente de
um só mandato. Eles contavam com a lentidão da recuperação econômica, uma vez
que, historicamente, jamais um presidente americano havia conseguido se
reeleger numa situação em que a taxa de desemprego estivesse próxima aos 8%.
A vitória de Obama,
na atual eleição, foi emblemática. Ele ganhou em estados que sofreram muito com
a desindustrialização, sobretudo nos setores automobilístico e siderúrgico. O
plano de ajuda que Obama implantou no início de seu governo, para salvar estes
setores industriais, impediu o agravamento do desemprego em estados como Ohio e
Pennsylvania. A vitória na Flórida, por margem mínima, foi garantida pelos
votos dos imigrantes latinos. A vitória por larga margem nas costas leste e
nordeste americanas foi garantida pelo voto liberal cosmopolita. Os setores que
apoiaram Obama, que hoje já são maioria nos Estados Unidos, são aqueles que
entendem que o mundo mudou. Eles entendem que não é mais possível ao país se
comportar como o Xerife do mundo. Não é mais possível sustentar uma mentalidade
conservadora, que se recusa a aceitar as diversidades raciais, políticas e
culturais.
A vitória de Obama
foi a constatação de que a velha América saudosista ficou para trás. Com a
eleição de terça-feira passada os Estados Unidos conseguiram virar mais uma
página de sua história. O país conseguiu mostrar que ainda é dinâmico e sabe se
adaptar às mudanças históricas.
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