Mais de um
terço dos brasileiros desconhecem o valor das contas que vencem no próximo mês.
Falta de disciplina é citada por 39% como a maior dificuldade na hora de
planejar gastos
O
consumidor médio brasileiro gasta mais do que ganha, não guarda dinheiro e
tampouco planeja o próprio futuro, tanto que oito em cada dez entrevistados
(81%) têm pouco ou nenhum conhecimento sobre como fazer o controle das despesas
pessoais. As conclusões são da mais recente pesquisa realizada pelo Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL). O estudo foi realizado em todas as capitais brasileiras com o
objetivo de identificar como os consumidores enxergam a própria relação com o
dinheiro, como agem e o conhecimento que têm das questões financeiras.
De acordo com os resultados do levantamento, somente 18% dos entrevistados têm
conhecimento total sobre o fluxo de receitas e despesas no orçamento pessoal. A
maioria (71%) tem apenas conhecimento parcial de suas finanças e outros 10% têm
baixo ou nenhum conhecimento.
Ao
contrário do que o senso comum possa imaginar, não há diferença significativa
entre os estratos sociais. Entre os que têm renda domiciliar de até R$
1.330,00, o conhecimento pleno é de 16%, somente 15% dos que ganham entre R$
1.331,00 e R$ 3.140,00 apresentam total conhecimento sobre as próprias contas e
dentre os que têm renda acima de R$ 3.141,00, o percentual sobe um pouco mais
para 23%.
Na avaliação da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, os dados reforçam a
ideia de que a educação financeira está ligada ao comportamento e não
necessariamente à renda dos indivíduos. “É uma questão de hábito. Mais dinheiro
no bolso nem sempre significa melhor comportamento financeiro, incluindo
pagamento de contas, uso do crédito e hábito de compras”, explica.
Controle das finanças pessoais
Um número revelador do estudo é que mesmo entre os que sabem pelo menos um
pouco sobre suas finanças (controle total ou parcial das contas), há uma
parcela significativa (28%) de pessoas que não utiliza um método organizado e
faz o controle financeiro apenas “de cabeça”.
“É preocupante que um contingente tão expressivo da população não utilize um
método sistemático para organizar as próprias contas”, alerta a economista
Luiza Rodrigues.
Na lista dos métodos de controle financeiro mais citados, ferramentas manuais
como caderno de anotações, agenda e papel aparecem em primeiro lugar com 38%.
Em seguida vem a planilha de computador, com 32%. Uma reduzida parcela de
apenas 2% dos entrevistados afirma que a tarefa de controlar as finanças é feita
por terceiros.
A economista Luiza Rodrigues avalia que o consumidor não deve ter vergonha de
utilizar o velho caderninho de anotações na hora de controlar as contas
domésticas. “Não importa a ferramenta, importa que o método seja organizado.
Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras não. O
fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta e jamais confiar
na memória porque ela falha”, orienta a economista.
Quando indagados sobre as dificuldades que enfrentam na hora de fazer o
planejamento das contas, a maior parte dos consumidores alegou que a falta de
disciplina para registrar todos os gastos (39%) é o principal empecilho. Outras
opções como unir todas as informações (29%), recordar todos os pagamentos que não
constam no extrato bancário (28%), falta de tempo (23%) e não saber calcular
taxa de juros (11%) também foram citadas pelos entrevistados.
Comportamento de risco
A pesquisa detectou uma série de comportamentos que demonstram a falta de
planejamento dos consumidores. Mais de um terço dos brasileiros (36%) admitiram
não saber o valor exato das contas que terá de pagar no mês seguinte. Já em
relação aos gastos extras, a maioria (57%) também afirma não saber com precisão
o quanto terão de desembolsar no próximo mês, fato que dificulta o planejamento
e o controle financeiro do próprio orçamento.
Consequência direta da falta de conhecimento sobre as próprias despesas, 36%
dos entrevistados afirmaram terem deixado de pagar ou terem pago com atraso
alguma conta nos últimos 12 meses. Faturas de cartão de crédito (31%) e
despesas fixas, como água, luz e telefone (28%) se destacam como os principais
compromissos que não foram pagos em dia.
Ainda sobre o comportamento dos entrevistados no pagamento de contas, quatro em
cada dez (38%) brasileiros que possuem conta corrente em banco admitem terem
entrado pelo menos uma vez no cheque especial nos últimos 12 meses – sendo que
30%, mais de duas vezes. O mesmo se repete entre os têm cartão de crédito. Pelo
menos 40% deles já deixaram de pagar a fatura integral no último ano, sendo que
26% são reincidentes e atrasaram mais de duas vezes ao menos.
“Cheque
especial e cartão de crédito são as modalidades que cobram os juros mais altos
do mercado. O atraso no pagamento dessas contas tem consequências perigosas
para o consumidor”, alerta Luiza Rodrigues.
Mais da metade dos entrevistados (51%) que possuem conta em banco fecharam o
último mês no vermelho ou no “zero a zero” (sem saldo negativo e nem positivo).
A pesquisa indica forte correlação entre consciência a respeito das próprias
finanças e situação bancária dos entrevistados. Apenas 9% dos que têm total
conhecimento de suas despesas afirmaram estar com saldo negativo, enquanto que
o percentual sobe para 17% entre os que têm conhecimento parcial e 31% para os
que não possuem qualquer conhecimento sobre as finanças pessoais.
Cultura do imediatismo
Seis em cada dez (56%) entrevistados chegaram ao fim do último mês sem ter
conseguido poupar nenhum centavo. Na avaliação dos especialistas do SPC Brasil,
a constatação é reflexo da “cultura do imediatismo” que conduz o pensamento de
boa parte dos brasileiros. De cada dez entrevistados, pelo menos quatro (36%)
admitem que costumam adquirir produtos mesmo não tendo condições de gastar,
ainda que eventualmente.
Do universo de entrevistados, 30% reconhecem ter comprado, nos últimos três
meses, algum bem que fez com que excedessem seu limite financeiro. Nesse
quesito, os itens líderes de parcelamento são as roupas e calçados (63%),
eletrônicos (58%) e eletrodomésticos (44%).
“O
perfil desses produtos, que são mais voltados para o dia a dia do consumidor,
demonstra que o brasileiro prioriza os seus desejos imediatos de consumo. De
modo geral, o que prevalece é se a parcela cabe ou não no bolso, ao invés de
pensar em quantos meses ele deveria economizar para comprar o produto à vista”,
explica Luiza Rodrigues.
Decorrência do comportamento imediatista e pouco poupador, é que numa situação
de dificuldade, como perda de emprego ou problemas de saúde, 20% dos
entrevistados admitem que não conseguiriam se manter financeiramente nem por um
mês. E outros 37% não se sustentariam por um período superior a três meses.
Falta educação financeira
Para os especialistas do SPC Brasil, a educação financeira não se resume ao
simples ato de poupar dinheiro. Trata-se de adotar uma atitude consciente ao
impor critérios na utilização dos recursos financeiros e saber planejar as
próprias contas para um período de longo prazo.
Além da influência do comportamento imediatista do brasileiro, a economista
Luiza Rodrigues avalia que o histórico de convívio por vários anos com a
hiperinflação retardou o desenvolvimento da educação financeira no país, já que
os consumidores não tinham como preocupação poupar, mas sim em estocar produtos
e gastar o dinheiro o mais rápido possível, antes que ele perdesse o valor.
“A falta de conhecimento financeiro por grande parte da população é um gargalo
no Brasil. Por isso é importante incluir o tema na formação básica dos
cidadãos. Controle de gastos, planejamento e evitar compras por impulso são
algumas atitudes que se aprendem desde pequeno”, defende a economista.
Metodologia
A pesquisa entrevistou 656 consumidores em todas as capitais brasileiras. A
margem de erro é de 3,8 pontos percentuais e a margem de confiança é de 95%.
Baixe o material completo em https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas
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