À medida que a COP30 — a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — se aproxima, a cidade-sede e as regiões ao redor se preparam para receber milhares de visitantes, líderes mundiais, jornalistas e investidores. O evento, que coloca o Brasil no centro das discussões ambientais globais, também movimenta a economia local. Porém, junto ao entusiasmo e às oportunidades, surge uma crítica que tem ganhado força: muitos lojistas estariam inflacionando os preços de seus produtos para aproveitar o aumento da demanda.
Oportunidade ou exploração?
Com a chegada da COP30, hotéis, restaurantes, transportes e comércios em geral viram uma chance de lucro rápido. O problema é que, em alguns casos, essa oportunidade virou abuso. Produtos básicos, como garrafas de água, refeições e até lembranças turísticas, tiveram reajustes de até 100% nas últimas semanas, segundo denúncias de consumidores locais.
“Antes da conferência, eu comprava o mesmo prato feito por R$ 25. Agora, está R$ 45. Parece que tudo subiu do nada”, comenta Juliana Mendes, moradora da capital onde o evento será realizado. Ela não é a única a perceber a alta repentina. Comerciantes alegam que o aumento é reflexo da maior procura e dos custos extras de operação, mas muitos consumidores enxergam outra realidade: ganância disfarçada de oportunidade.
A corrida pelo lucro
De fato, eventos internacionais como a COP30 trazem uma injeção de dinheiro para a economia local. Hotéis lotam, o turismo cresce e os estabelecimentos registram movimento recorde. No entanto, especialistas alertam que a inflação artificial pode gerar um efeito reverso. “Quando o comerciante eleva os preços além do razoável, ele pode ter ganhos imediatos, mas compromete sua reputação e afasta o consumidor no longo prazo”, explica o economista Rogério Brites, da Universidade Federal do Pará.
Essa prática é comum em grandes eventos — basta lembrar das Olimpíadas ou da Copa do Mundo —, mas volta a ser tema de debate. O que deveria ser uma vitrine para o país pode acabar se tornando uma vitrine da especulação.
Fiscalização e reação dos consumidores
Órgãos de defesa do consumidor já estão de olho. O Procon estadual iniciou uma série de fiscalizações em hotéis, restaurantes e supermercados para identificar abusos. Segundo nota divulgada, multas podem chegar a R$ 10 mil por infração, dependendo da gravidade e da reincidência.
Nas redes sociais, a população também se mobiliza. Grupos locais incentivam boicotes a estabelecimentos que aumentaram preços de forma abusiva e divulgam listas de locais que mantiveram valores justos. “É uma forma de apoiar quem pensa no coletivo e não apenas no próprio bolso”, afirma André Souza, criador de uma dessas iniciativas.
Sustentabilidade além do discurso
A COP30 traz consigo o discurso da sustentabilidade — não apenas ambiental, mas também econômica e social. Nesse contexto, é contraditório que parte do comércio local aproveite o evento para explorar consumidores e visitantes. “Sustentabilidade é equilíbrio. Não faz sentido discutir o futuro do planeta se a prática imediata é de exploração”, comenta Marina Albuquerque, socióloga e ativista ambiental.
A conferência representa uma chance histórica para o Brasil mostrar que é possível crescer com responsabilidade. E isso começa em atitudes simples, como preços justos, transparência e respeito ao consumidor.
Conclusão: entre o verde e o cifrão
Enquanto o mundo volta os olhos para a COP30 e suas metas climáticas, o comércio local enfrenta um teste silencioso: o de provar que é capaz de prosperar sem abusar. O evento é uma oportunidade de ouro, mas o verdadeiro lucro virá não apenas das vendas, e sim da imagem que o país deixará — a de um lugar que recebe bem, sem explorar.
Afinal, de que adianta falar em salvar o planeta se, na prática, a ganância ainda fala mais alto que a consciência?
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