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07 novembro 2025

O Mistério da Mulher de Branco

 Era uma manhã comum de terça-feira. O relógio marcava 6h30, e o céu ainda exibia aquele tom alaranjado que antecede o nascer do sol. A rua estava silenciosa, exceto pelo som distante dos motores e o canto dos pássaros que despertavam junto com a cidade. Eu seguia meu caminho habitual até a parada de ônibus, quando algo — ou melhor, alguém — chamou minha atenção.

Logo à frente, uma mulher caminhava apressada. Usava uma roupa branca, simples, mas que se destacava no contraste com o cinza da rua ainda molhada pelo sereno da madrugada. Seu passo era firme, mas havia algo estranho em seu jeito... algo que eu não saberia explicar.

A distância entre nós era pequena, e por alguns segundos pensei em apressar o passo para ultrapassá-la, mas algo me segurou. Foi então que o meu celular tocou. O som do toque quebrou o silêncio daquela manhã. Tirei o aparelho do bolso e olhei a tela: um número desconhecido. Por impulso, atendi.

— Alô? — disse, tentando disfarçar o susto.

Do outro lado, apenas estática. Nenhuma voz, nenhum ruído claro, apenas um som abafado, como se alguém respirasse do outro lado da linha. Olhei novamente para frente... e foi aí que o sangue gelou.

A mulher de branco não estava mais lá.

Olhei para os lados, procurei nas esquinas, nos portões, até mesmo nas janelas das casas. Nada. Simplesmente havia desaparecido. Em poucos segundos. Não havia tempo hábil para ela dobrar uma esquina ou entrar em alguma residência. Era como se tivesse se desfeito no ar.

O coração acelerou. Tentei racionalizar — talvez ela tivesse corrido, talvez eu não tivesse percebido. Mas o silêncio da rua parecia zombar das minhas tentativas de explicação. Ainda com o celular na mão, percebi que a ligação continuava ativa. Levei o aparelho ao ouvido novamente.

Dessa vez, uma voz sussurrou:

— Não olhe para trás.

O arrepio percorreu cada centímetro do meu corpo. Instintivamente, congelei. O medo travou meus músculos, e o tempo pareceu parar. Eu podia ouvir meu próprio coração batendo como um tambor dentro do peito.

Contra todo o bom senso, virei-me devagar.

Atrás de mim, a rua estava vazia. Nenhum sinal de movimento. Nenhum som. Apenas uma neblina fina que começava a se formar. Engoli em seco e comecei a caminhar rápido, tentando afastar aquele desconforto. Quando finalmente cheguei à parada de ônibus, sentei-me no banco e respirei fundo.

Foi então que vi algo que me fez duvidar da própria sanidade.

Sobre o chão, bem ao lado do ponto, havia uma fita branca de tecido, úmida, suja de terra — idêntica à da barra do vestido que eu vira minutos antes.

Peguei o celular novamente. O número da chamada continuava registrado na tela, mas quando tentei retornar, o sistema exibiu uma mensagem impossível: “Número inexistente.”

Desde aquele dia, não passo mais por aquela rua. Alguns dizem que, nas primeiras horas da manhã, ainda é possível ver uma mulher de branco caminhando apressada, sempre em direção à parada de ônibus. Outros juram que ela desaparece quando alguém tenta se aproximar.

Ninguém sabe quem ela foi, mas contam que há muitos anos uma jovem morreu atropelada naquele mesmo trecho — a caminho do trabalho, vestida de branco.

E, todas as manhãs, às 6h30, ela ainda está tentando chegar lá.

Fim.

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