*Celso Petrucci
No final de julho, participamos de
mais uma reunião da CII/CBIC – Comissão da Indústria Imobiliária da Câmara
Brasileira da Indústria da Construção, em Porto Alegre. No encontro, com a
presença de representantes de entidades de 17 Estados, tivemos a oportunidade
de medir a temperatura do mercado imobiliário Brasil afora.
Exceto a cidade do Recife, que passa
por um período de crescimento sustentado, quer pelos investimentos no Porto de
Suape, quer pelos investimentos para a Copa de 2014, o que ouvimos quanto à
acomodação do mercado e com o “fechamento” desse ano deixou-nos apreensivos.
Aconteceu um real encolhimento nas
operações das empresas de capital aberto, que deixaram algumas cidades e
regiões do País e estão concentrando suas atividades nos mercados tradicionais
de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Esse movimento, pelo o que
entendemos, tem a ver com a dificuldade de administrar joint ventures e
parcerias a partir de suas matrizes e com o excesso de lançamentos concentrados
em anos anteriores, que levaram essas empresas a atrasar a entrega das obras e,
consequentemente, suportar o aumento de custos daí originados.
A confiança do empresário no mercado
consumidor diminuiu e, como consequência direta desse movimento, os
financiamentos à produção com recursos da poupança caíram 27,6% no primeiro
semestre, apesar do crescimento de 23,5% nos financiamentos às pessoas físicas
no mesmo período. Outro fator a ser considerado é o aumento de preços dos últimos
anos que se reflete na redução da oferta de produtos para as classes B-, C e D,
principalmente àqueles compradores enquadrados no programa Minha Casa, Minha
Vida.
Na cidade de São Paulo o quadro não
é diferente, pois o nosso mercado imobiliário reflete o comportamento da
economia do País. Em 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, as empresas
incorporadoras ofertaram 38 mil novas unidades residenciais, e o mercado
respondeu bem, com o escoamento de quase 36 mil unidades durante o ano. Já em
2011, quando o PIB cresceu 2,7%, mesmo com os lançamentos mantidos na casa de
38 mil unidades, as venda caíram para aproximadamente 28 mil unidades. No final
de 2011, a oferta – ou estoque – de imóveis novos não comercializados subiu
para quase 20 mil unidades.
No primeiro semestre deste ano, por
sua vez, foram lançadas, na Capital, 8.862 unidades, o que representa a redução
de 37,2% comparativamente ao primeiro semestre de 2011, quando foram postas à
venda 14.112 unidades. Já as vendas, em número de unidades, cresceram 2,6% em
relação ao ano passado registrando a comercialização de 11.981 imóveis contra
11.680 unidades em 2011. Em valores corrigidos pelo INCC-DI o resultado é muito
próximo, R$ 6,1 bilhões em 2011 e R$6 bilhões em 2012. Qual a leitura desses
números?
Apesar da queda expressiva nos
lançamentos, a demanda está aderente aos preços e aos produtos ofertados. Além
disso, os incorporadores estão lançando e vendendo muito mais unidades de dois
dormitórios, atendendo a uma maior fatia da pirâmide social, principalmente
para adquirentes do primeiro imóvel.
Outro fator que interferiu nos
números: a prefeitura e os órgãos envolvidos no licenciamento de
empreendimentos precisam se reciclar, pois a aprovação de projetos na cidade
diminuiu quase 20% no acumulado dos últimos 12 meses, até abril.
Historicamente, o mercado da cidade de São Paulo lança de 30% a 35% dos seus
produtos no primeiro semestre.
Depois de rever os números de
lançamentos na Capital para 30 mil unidades, das quais 70% a serem lançadas no
segundo semestre, os empresários do setor aguardam a informatização dos
processos de aprovação de projetos e o começo do fim da burocracia.
Uma indústria, como a imobiliária,
que trabalha com o equilíbrio entre oferta e demanda de imóveis, não é possível
ficar aguardando mais uma década para que o setor público trabalhe em sintonia
com a Era da Informatização. Se não formos acompanhados, o futuro ficará para
trás.
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