A indústria fabricante de carroçarias de ônibus (urbanas, rodoviárias, micros, minis e intermunicipais) está terminando 2011 com um ótimo resultado, uma vez que somando a produção para atender os mercados interno e externo, o volume produzido deverá atingir cerca 35 a 35,6 mil unidades e com isso, um crescimento de 8,3% ante as 32.821 unidades fabricadas em 2010.
Quarto maior produtor mundial de carroçarias de ônibus, com capacidade instalada para fabricar entre 40 a 42 mil unidades, a indústria deverá comercializar no mercado doméstico em torno de 31 a 31,5 mil unidades e exportar entre 4.050 a 4.100 unidades, conquistando crescimento de 11% e perda de 8,5 a 9%, respectivamente. “Nossas vendas domésticas continuam extremamente representativas, representando 88,5% do volume produzido, enquanto às exportações respondem por 11,5%”, explica José Antônio Fernandes Martins, Presidente do SIMEFRE – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários.
De acordo com o Presidente do SIMEFRE, em 2010 a indústria produziu 32.821 unidades, das quais 28.256 foram comercializadas no mercado doméstico e 4.565 mil unidades exportadas.
No acumulado de janeiro a outubro de 2011, as empresas da área fabricaram 29.041 unidades e registraram crescimento de 8,3% sobre as 26.804 carroçarias do ano passado. As vendas domésticas nos dez primeiros meses do ano somaram 25.718 unidades obtendo desempenho 11.1% acima das 23.166 carroçarias vendidas em 2010 e as exportações totalizaram 3.313 unidades recuando 8,9% ante as 3.638 unidades exportadas até outubro do ano passado.
Para Martins o desempenho do setor em 2011 recebeu a influência de vários fatores positivos e negativos. Entre os pontos positivos estão o PSI – Programa de Sustentação do Investimento, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que oferece oito anos de prazo, a juros de 10% e financia 90% do bem para pequenas e médias empresas. “Além disso, houve um aumento do poder aquisitivo da população, que passou a viajar mais e levou às empresas de ônibus aumentarem suas frotas”, pontua Martins.
Compra antecipada aquece vendas - Segundo o Presidente do SIMEFRE os empresários de ônibus anteciparam a renovação das frotas porque a partir de 2012, todos os comerciais (caminhões e ônibus) movidos a diesel que sairem das linhas de montagens estarão dentro da norma Euro V e, consequentemente, entre 10% a 15% mais caros.
Outro fator alavancador do desempenho, no entender de Martins foram as vendas através do programa Caminho da Escola do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), que oferece crédito do BNDES com financiamento de até 100%, juros fixos de 4,5% e prazo de pagamento até 8 anos. Este segmento - criado em 2008 pelo ex-presidente Lula – já somam 22 mil unidades. “Em 2011, ele responderá por cerca de 15% das vendas do setor, ou 5 mil unidades. A modalidade Finame continua importante, para os fabricantes da área, uma vez que ela representa mais de 80% das vendas do setor”, explica.
Perspectivas 2012 – Segundo o Presidente do SIMEFRE é tremendamente difícil fazer estimativas numa situação em que o mundo todo está em crise e ninguém sabe qual será o futuro dos que estão envolvidos no Euro. “Qualquer colocação deve ser muito bem entendida para não causar alardes. Uma previsão, com a Europa completamente desorganizada e, principalmente, sem que tenha ocorrido o equacionamento das dívidas desses países (Itália, Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda) pelos países lideres da comunidade européia (França e Alemanha), deixa uma expectativa de incertezas”. No entender de Martins, o Brasil certamente não sairá ileso da crise. “Vivemos uma economia internacional de muita turbulência e querendo ou não ela vai afetar nosso crescimento”, alerta Martins.
Segundo ele, em 2012 o mercado total de carroçarias de ônibus poderá ser 7 a 10% menor do em 2011. As vendas para o mercado interno ficarão de 6 a 8% menores ante o resultado de 2011 e as externas, caso trabalhemos com dólar entre US$ 1,7 a US$ 1,75 poderão registrar aumento de 8 a 10%, quando comparadas as unidades exportadas no exercício que termina.
Para Martins a perda esperada para 2012 não será desesperadora, pois o setor estará retornando ao patamar de 2010, que foi um ano recorde para as empresas da área. Porém, os números previsto só valerão “se conseguirmos fazer com que o BNDES aprove o Finame Verde (linha de crédito especial do PSI para os ônibus que serão fabricados dentro da norma Euro V), com financiamento de 100% do bem, juros fixos de 7% e prazo de pagamento até 10 anos. “Se conseguirmos isso, a possibilidade de termos um bom desempenho no próximo ano será muito boa”, diz Martins.
No entender do presidente do SIMEFRE, o PIB (Produto Interno Bruto) não deverá ser superior a 3%. “Alguns segmentos deverão fechar em 2%. Para 2011, havia sido previsto um PIB da ordem de 4% a 4,5 %, mas talvez não chegue a 3% ou 3,2%”.
Por outro lado a economia brasileira, apesar da crise traz tranqüilidade. O grande grau de confiança no país cresceu muito em função dos fundamentos macros econômicos. “Temos uma reserva cambial de US$ 350 bilhões; um depósito compulsório disponível para uma emergência de R$ 440 bilhões; os juros estão caindo (de 12% caiu para 11%) e deve baixar para 10,5% a 10% em 2012. Outras circunstâncias que favorecem nossa economia são:
- Estabilidade política;
- Ano eleitoral;
- Sistema bancário regulamentado;
- Empresas – em geral - capitalizadas e lucrativa;
- Grande produtor de commodities agrícola;
- Maior produtor de commodities minerais;
- Pré sal e outras bacias petrolíferas que poderão torna o país possível exportador do produto.
Nova Gestão - A nova diretoria do SIMEFRE – empossada hoje (6 de dezembro de 2011) tem como grande meta para o próximo mandato, combater a forte desindustrialização que vem atacando muitos segmentos da nossa área industrial de transformação que deve fechar o ano com um déficit próximo a US$ 60 bilhões, quando há cinco anos este número era positivo em US$ 6 a 7 bilhões.
Este déficit foi causado pela presença violenta das indústrias asiáticas, principalmente as chinesas porque não termos poder de competitividade. Com isso, elas estão vendendo volumes fantásticos dentro Brasil e criou este processo de desindustrialização, que já ocorreu nos EUA. As lojas de departamento dos Estados Unidos só comercializam produtos chineses (radio, tv, telefones, geladeiras, roupas etc). “Essa desindustrialização dos EUAs gerou um desemprego acima de 9% e agora começa afetar a nossa indústria de transformação no Brasil de maneira bastante preocupante, embora nosso índice de desemprego seja muito confortável comparado aos da Europa é de 6%”, pondera Martins.
A desindustrialização é causada por fenômenos estruturais, como taxa de juros e carga tributária altas; sistema de logística deficiente; infraestrutura (metroferroviário, rodoviária, aeroportuário) que não funciona e está aquém do desenvolvimento do País; câmbio volátil que prejudica o planejamento dos exportadores. Existe ainda, o problema da triangulação ou circunvenção, que é a utilização de indústrias chinesas que trazem produtos em CKD e montam em países do Mercosul. Isso ocorre porque não existe inspeção aduaneira suficiente para verificar de o produto possui certificado de origem de 60%. Com isso, os produtos entram com imposto zero e tiram completamente a competitividade dos fabricantes brasileiros.
“O plano Brasil Maior, anunciado pelo Governo Federal aborda fortemente o assunto, autorizando o aumento da quantidade de técnicos disponíveis para fazer inspeção, devendo, provavelmente, contar com a participação do Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. Com esta ação, esperamos que ele possa debelar este mal que é tão grande ou maior que a desindustrialização”, reforça Martins.
No entender do Presidente do SIMEFRE, o plano Brasil Maior representará uma desoneração fiscal da ordem de R$ 27 bilhões, mostrando que o Governo está empenhado em trazer competitividade às empresas. “Martins pede agilidade na regulamentação e que o mesmo seja ampliado para outros setores (ônibus, ferroviário, empresas operadoras de transportes, entre outros)”.
A diretoria do SIMEFRE tem, ainda, como bandeira a regulamentação da lei que estabelece margem de 25% às empresas brasileiras em concorrências internacionais. A indústria ferroviária sofreu muitos ataques das chinesas e coreanas perdendo muitos negócios em função de preços não competitivos. Através dessa lei nossas empresas poderão ser beneficiadas com preço de até 25% a mais.
Prioridades: Guerra a desindustrialização e a triangulação; luta para que o plano Brasil Maior seja implantado e ampliado em sua totalidade; aumento da competitividade; buscar melhora substancial do setor de infraestrutura; de logística; equacionamento do sistema tributário; acabar com a guerra fiscal entre estados; fazer com que plano pré sal se desenvolva rapidamente e com eficácia.
O comportamento do mercado em 2012 vai depender muito do governo brasileiro e também do desenrolar da crise européia, principalmente, do apoio que os EUA, França e Alemanha possam dar aos problemas de endividamento e que eles possam ser equacionados. Guerra fiscal é extremamente negativa, favorecem alguns estados em detrimento de outros isso é outro item que através do plano Brasil Maio deveria ser conseguida uma solução para acabar com a guerra fiscal que é extremamente prejudicial para a indústria.