Fatores econômicos e tabagismo estão relacionados para aparecimento da menopausa precoce
Mulheres de classes sociais mais baixas são quase três vezes mais propensas a ter falência ovariana prematura (FOP) em comparação a mulheres de outros estratos sociais. Estas são as conclusões de um estudo britânico, apresentado durante a reunião anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia.
Segundo Rumana Islam, do Imperial College, em Londres, a falência ovariana prematura, ou menopausa precoce, não está associada apenas aos casos de infertilidade feminina, mas também com maior morbidade e mortalidade entre as mulheres, bem como com uma diminuição da qualidade de vida, equivalente a casos de pacientes que apresentam diabetes tipo 2 ou artrite reumatóide.
Estudos anteriores sobre a FOP haviam avaliado pequenos grupos de mulheres que buscavam o atendimento hospitalar, portanto, as informações sobre os riscos e impactos da falência ovariana prematura eram poucas. O estudo de Rumana Islam ampliou o entendimento sobre a doença, analisando os registros de cerca de 5000 mulheres britânicas que faziam parte do estudo 1958 Birth Cohort. Elas foram acompanhadas pelos pesquisadores até a idade de 50 anos, quando foram questionadas sobre a data e a causa da sua menopausa, bem como sobre a sua qualidade de vida.
Das 4968 participantes efetivas do estudo, 370, ou 7,4%, já tinha entrado na menopausa, naturalmente, ou de maneira induzida. Além da influência da classe social, os pesquisadores detectaram uma forte associação do tabagismo com a menopausa precoce. A qualidade de vida foi avaliada segundo os parâmetros do inquérito de saúde SF-36, que produz um perfil de saúde física, psicológica e bem-estar em oito áreas.
As mulheres com menopausa precoce relatavam, quase duas vezes mais, uma pior qualidade de vida atribuída a fatores como tabagismo, obesidade e pouco exercício físico. Os pesquisadores detectaram também um impacto profundo na qualidade de vida destas mulheres, dez anos após a chegada da menopausa precoce, - o que afetava negativamente sua vitalidade física.
A FOP é caracterizada por amenorréia (ausência de menstruação), infertilidade e deficiência de esteróides sexuais levando a sintomas da menopausa em mulheres com idade inferior a 40 anos. Quase 20% das mulheres integrantes do estudo apresentavam falência ovariana prematura causada pela remoção precoce dos ovários e / ou histerectomia, além do grupo que havia se submetido à quimioterapia.
Embora a histerectomia tenha se tornado menos comum na última década, as descobertas britânicas reforçam a recomendação de que a ooforectomia deve ser um último recurso para tratar os distúrbios menstruais. O procedimento também deve ser evitado em mulheres mais jovens.
“Os dados da pesquisa britânica fornecem razões claras para a gestão dos sintomas FOP pelos profissionais de saúde. As mulheres com menopausa precoce podem se beneficiar muito com cuidados especializados multidisciplinares, incluindo suporte para a sua significativa gama de sintomas psicológicos e físicos. Suas necessidades de saúde, a longo prazo, também devem ser consideradas, pois como o estudo mostrou, a menopausa precoce tem um grande impacto na qualidade de vida de uma parte significativa da população”, afirma o ginecologista Joji Ueno, diretor da Clínica GERA.
Menopausa precoce x infertilidade feminina
Muita gente ainda acredita que essas duas palavras são sinônimos: climatério e menopausa. Mas não são. Embora mantenham uma estreita ligação, correspondem a dois estágios diferentes na vida de qualquer mulher. O primeiro refere-se ao período de transição entre a fase reprodutiva para a não-reprodutiva. A característica principal do climatério é o início do fim da função regular dos ovários. “Nessa etapa, que começa alguns anos antes da menopausa propriamente dita, os ovários paulatinamente diminuem sua produção de hormônios sexuais femininos, como o estrogênio. Até que, por volta dos 50 anos de idade, encerram suas atividades. Nesse momento, quando não há mais ovulação e cessa a menstruação, a chegada da menopausa pode ser decretada”, afirma o ginecologista Joji Ueno.
Durante a menopausa, a mulher experimenta uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais importantes que começam no climatério. “Porém, para algumas mulheres, a menopausa chega com, pelo menos, 15 anos de antecedência, bem no período em que a maioria ainda poderia ter filhos. Quando isso acontece, a mulher pode estar entrando em um quadro de menopausa precoce”, alerta Ueno.
Não existe uma causa determinante para o surgimento do problema. A menopausa precoce pode ocorrer por vários fatores, como o histórico familiar, por exemplo. “Na verdade, a idade da menopausa não está relacionada à época da primeira menstruação, mas sim a quando a mãe e as irmãs da paciente entraram na menopausa. Existem trabalhos científicos que mostram interligação das idades da mãe com a da filha, porém esta não é a regra geral para uma FOP”, afirma o médico.
Há também outros fatores externos que podem antecipar a menopausa, como a remoção dos ovários ou de grande parte deles e os tratamentos contra o câncer, por exemplo. “A radioterapia e a quimioterapia têm como objetivo impedir o crescimento celular. Porém, estes tratamentos não atingem apenas as células malignas, mas as que estão sadias também. Por isso, dentre outros efeitos colaterais, os tratamentos contra o câncer podem levar a uma falência prematura dos ovários”, explica o médico, que também dirige o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de São Paulo.
Existem ainda outros medicamentos que podem gerar a chamada menopausa química, que ocorre independentemente da idade da paciente. “Um exemplo é o uso de um medicamento comumente indicado para casos de endometriose”, informa o médico.
Mulheres que estão em seu ciclo reprodutivo de vida e que sofrem com doenças auto-imunes - tais como lúpus e inflamações na tireóide (Tireoidite de Hashimoto) - ou com problemas metabólicos como o diabetes, ou ainda com infecções virais adquiridas, podem necessitar de medicamentos que acabam também por acelerar o processo da menopausa precoce. “Ou seja, não é propriamente a doença que provoca a alteração e, sim, o efeito da medicação”, explica Ueno.
Há também a menopausa precoce cirúrgica, caracterizada pela retirada dos ovários, geralmente, realizada em mulheres com diagnóstico de câncer. E existem, ainda, doenças genéticas específicas que provocam distúrbios ovarianos, mas estas não são as grandes causadoras da menopausa precoce. “Alterações do cromossomo X, como a Síndrome de Turner ou a Síndrome do X Frágil podem ser consideradas possíveis causas da falência prematura dos ovários”, diz o ginecologista.
“A determinação da causa da menopausa prematura é importante para as mulheres que desejam engravidar. O exame físico é útil, seguidos por exames complementares, como o de dosagem hormonal e o ultrassom ovariano. Exames de sangue podem ser realizados para se investigar a presença de anticorpos que acarretam danos às glândulas endócrinas – exemplo de doenças auto-imunes. Para as mulheres com menos de 30 anos de idade, uma análise dos cromossomos é geralmente realizada”, diz Joji Ueno.
Confirmado o diagnóstico, a regra para tratamento é a Terapia de Reposição Hormonal, a TRH. “O uso da TRH é imprescindível nos casos de menopausa de origem cirúrgica ou provocada por quimioterapia, em virtude da intensidade destes sintomas”, afirma Ueno.
Além disto, a menopausa precoce é indicação precisa de Terapia de Reposição Hormonal, pois essas mulheres apresentam risco 4 x maior de desenvolver doenças cardíacas e 7 x maior de desenvolver osteoporose.
Chances de engravidar
A mulher com menopausa precoce apresenta uma chance inferior a 10% de ser capaz de conceber. Suas chances aumentam em até 50% quando é realizada a implantação de óvulos de uma outra mulher no seu útero – a ovodoação – após eles serem fertilizados em laboratório, com emprego das técnicas de Fertilização In Vitro, FIV.